Em 2009, no que diz respeito a inovação social, uma das frentes mais marcantes de atuação da Agência UFRJ de Inovação foi a busca por uma conscientização sobre a importância de uma alimentação segura e nutritiva para todos. Há meses, o diálogo entre a Agência e, principalmente, o Sistema de Alimentação da UFRJ vem rendendo frutos. É consenso para todos os envolvidos que a discussão sobre agroecologia, segurança alimentar, alimentos orgânicos e outros temas relacionados chegou de vez à Universidade.
Além dos eventos, que mobilizaram muita gente nos últimos meses, muito tem sido feito também nos bastidores. Na última quarta-feira, 17 de dezembro, foi encerrado o Curso de Políticas Públicas de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável. Os encontros, realizados na Biblioteca do Centro de Ciências da Saúde, reuniram representantes das mais diversas áreas, interessados no tema. A ideia do curso era analisar algumas políticas públicas voltadas para essa área, que funcionaram nos últimos anos.
Leonardo Ribas, coordenador do Fórum Fluminense de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (FFSANS), foi o responsável por ministrar as aulas do curso. Para ele, o Brasil vive um momento importante, em que medidas públicas estão produzindo resultados positivos. Um dos exemplos é o conjunto de programas do Governo Lula, conhecido como Fome Zero. Segundo as informações destacadas por Ribas, desde sua implantação, cerca de 25% da população de classe C, D e E conseguiram aumentar o padrão de vida, auxiliadas por programas de transferência de renda.
Ele considera o período dos últimos seis anos um dos mais importantes. Leonardo lembra que o ano de 2006, por exemplo, marca a sanção da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan). O decreto 11346/06 foi o responsável por criar o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Para o coordenador do FFSANS, “é um momento significativo no Brasil e os ecos desse debate já chegaram à Universidade”.
É o que confirma Iris Guardatti, responsável pelo Setor de Inovação Social da Agência. Ela ressalta que, apesar da consciência de que a Universidade deve ter um papel importante nesse debate, ainda faltavam conhecimentos específicos para dar os próximos passos. “O curso foi fundamental, ao trazer para o grupo informações sobre os principais aspectos econômicos e sócio-políticos que influem no processo de vulnerabilidade e exclusão social como condicionantes da insegurança alimentar grave do país”, explica Iris.
Em destaque também durante o curso estiveram os marcos legais que apresentam o direito humano à alimentação adequada, a análise da aplicação do orçamento público federal na execução da política de segurança alimentar e nutricional, entre outros.
O curso marca o início de um processo completo. Foi uma iniciativa que deve ter continuidade, de acordo com ela: “Foi um primeiro, pretendemos dar continuidade a um processo de formação nossa para atuar no projeto”.
Parceria e novos planos
Nesse período, deu tempo de aplicar na prática um pouco disso tudo. A parceria forte entre o Sistema de Alimentação, a Agência e os produtores da agricultura familiar do Estado do Rio proporcionou a realização de duas feiras agroecológicas. A primeira ocorreu durante o I Encontro de Sabores e Saberes (que deve ser realizado anualmente) e, no último dia 3 de dezembro, no Restaurante Universitário, foi realizada a Feira Agroecológica da UFRJ, com cerca de 15 expositores.
Alguns produtores já haviam participado do primeiro Encontro. Outros, entretanto, estavam presentes pela primeira vez. É o caso de Daniel Bezerra, que representou a cooperativa Gonçalo. Na barraca de Daniel estavam à venda os ovos caipiras, produzidos em Rio das Flores. Recentemente, os produtores receberam o certificado oficial de alimento orgânico e já fazem parte da Associação de Produtores Orgânicos de Valença. “A galinha que bota esse ovo não come ração industrial, come o milho plantado pela gente na propriedade. Ela vive solta, ciscando. Só no final do dia volta ao galinheiro. Os ovos tem menos hormônios. Um frango normalmente chega ao tamanho em 4 ou 5 meses, o de granja, por causa dos hormônios, fica pronto em um ou dois meses”, afirma Daniel, garantindo que seu produto é livre de químicos, portanto, mais saudável.
Esses primeiros contatos só foram possíveis graças a diversas articulações com grupos como a Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro, a Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro, a Gerência da Área de Desenvolvimento Territorial e Agronegócios do Sebrae-RJ, além de diversas cooperativas, associações e produtores familiares agroecológicos do estado do Rio de Janeiro. E, segundo Iris, os diálogos se multiplicam a todo momento, pois se trata de um processo dinâmico. “O que muito tem nos animado é a possibilidade de articulação com parceiros internos. Durante este ano, como resultado das diversas atividades que realizamos, encontramos sinergia com grupos da Engenharia de Alimentos e da Farmácia, por exemplo. Muitas portas estão abetas”, afirma ela.
A previsão é de que as feiras agroecológicas sejam realizadas semanalmente, a partir de março de 2010. Além disso, já está sendo negociada com os produtores e cooperativas a compra de alguns itens de alimentos orgânicos, para serem integrados ao cardápio do Restaurante Universitário. O objetivo maior dessa ação é fortalecer a agricultura familiar agroecológica do Estado, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social.
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