Encontro de Sabores e Saberes alimenta debate sobre orgânicos na UFRJ

Taioba, alface roxa, almeirão. Dificilmente se ouve o nome dessas verduras e hortaliças em uma feira comum, e muito menos nos grandes supermercados. Mas nos dias 21 e 22 de outubro, quem passou pelo Restaurante Universitário Edson Luiz, na UFRJ, pôde encontrar tudo isso e muito mais. Eles estavam expostos na feira do I Encontro de Sabores e Saberes, evento realizado pela UFRJ, fruto de forte parceria entre a equipe do Restaurante, o Instituto de Nutrição e a Agência UFRJ de Inovação. As barracas preparadas representaram diversas cooperativas e associações de agricultores do Estado do Rio de Janeiro. Seus produtos têm em comum a ausência de defensores químicos, os chamados agrotóxicos. São alimentos orgânicos, muito mais nutritivos e seguros, de acordo com os especialistas.

Além da feira, o pátio do RU foi palco de palestras, mesas redondas e manifestações culturais. A Conferência de abertura foi proferida por Rogério Dias, coordenador de Agroecologia do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Ele falou sobre a relação entre campo e cidade. Para Rogério Dias, o cidadão urbano perdeu a noção da procedência dos alimentos. Um dos principais fatores para esse quadro é a oferta farta de tudo nas prateleiras dos supermercados, que acaba provocando um distanciamento entre consumidor e produtor.


— Essa é a lógica do grande. As grandes indústrias procuram os grandes fornecedores e não buscam pequenos produtores, porque dá mais trabalho e menos lucro. É a lógica da produção em massa —, comentou. Segundo ele, a cultura atual esqueceu que o alimento é a base para a sobrevivência e se acostumou a substituir o investimento em alimentação segura por gastos em outras áreas. “A questão do preço do alimento é relativa. Se é caro ou barato, depende do valor que damos à alimentação”. De acordo com ele, nos últimos anos, as famílias norte-americanas passaram a gastar menos com alimentação, e mais com saúde e remédios. “São números que poucos param para relacionar”, destacou.


O desafio é aproximar agricultor do público, reforçando a importância da produção agrícola. Rogério Dias destacou a importância de se investir no agricultor. “Se eu quero alimento de qualidade, preciso então investir nessa produção. Senão vou ficar restrito a comer aquelas porcarias de alimentos nada nutritivos”, comentou. Para ele, a feira livre, com produtos orgânicos, oriundos da agricultura familiar, é o lugar onde o consumidor pode ter a oportunidade de dialogar e conhecer melhor o produtor rural.

É o que pensa também José Renato, produtor de Mendanha, em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro. Além de expor em feiras como o Sabores e Saberes, voltadas especificamente para alimentos orgânicos, seu José trabalha em feiras livres convencionais, onde grande parte dos feirantes apenas revende o material das grandes agroindústrias. “Existe sim a concorrência, porque as pessoas costumam comprar pela boniteza do produto. Como os químicos fazem com que os vegetais cresçam mais e mais rápido, as pessoas ainda estão acostumadas ao convencional”, conta o agricultor. Ele aposta nas terras férteis onde produz banana, cereja e outras frutas e hortaliças.

Na outra ponta da feira, expositores de Guapimirim e Tanguá vendiam Alface Roxa, Mostarda, Tomatinho e muito mais. A barraca reunia a produção das duas associações, integrantes do Projeto Produção Agroecológica Sustentável, o Pais. O projeto é uma ONG patrocinada pelo Banco do Brasil e aplica nas comunidades rurais um sistema de canteiros que facilita a produção agrícola. “A ideia é garantir a alimentação de uma família de cinco pessoas, com a produção de três canteiros. Se a produção aumentar, o excedente passa a ser comercializado ou trocado por gêneros produzidos por outras famílias”, explicou Alex Oliveira, técnico agrícola do Projeto. O engenheiro agrônomo Marcelo Stumbo destaca a importância do projeto para a estabilidade dos agricultores. “É uma oportunidade de o produtor rural escolher se quer vir para a cidade ou viver no campo. A tendência é que eles queiram ficar, já que aqui o preço imposto por atravessadores acaba gerando desvantagens para o agricultor”, destacou ele.

Restaurante Universitário: espaço aberto para debate

De acordo com Nádia de Carvalho, diretora do Restaurante Universitário, proporcionar algo além do almoço diário aos alunos e a toda a comunidade sempre foi o norte do projeto. “O Instituto de Nutrição Josué de Castro entrou no projeto com a assessoria técnica e acadêmica, mas o lado social e cultural sempre foi muito forte. A parceria com a Agência de Inovação fortaleceu ainda mais esses aspectos”, comentou Nádia. Segundo ela, há a proposta de que as feiras sejam realizadas periodicamente no espaço. Além disso, a UFRJ já negocia com os agricultores a possibilidade de fechar uma parceria para que as refeições servidas no Restaurante contenham produtos oriundos da agricultura familiar agroecológica. Para que isso ocorra, no entanto, ainda é preciso que as associações se organizem e se articulem para atender a demanda do Restaurante, na ordem das toneladas.

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