
Além da feira, o pátio do RU foi palco de palestras, mesas redondas e manifestações culturais. A Conferência de abertura foi proferida por Rogério Dias, coordenador de Agroecologia do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Ele falou sobre a relação entre campo e cidade. Para Rogério Dias, o cidadão urbano perdeu a noção da procedência dos alimentos. Um dos principais fatores para esse quadro é a oferta farta de tudo nas prateleiras dos supermercados, que acaba provocando um distanciamento entre consumidor e produtor.
— Essa é a lógica do grande. As grandes indústrias procuram os grandes fornecedores e não buscam pequenos produtores, porque dá mais trabalho e menos lucro. É a lógica da produção em massa —, comentou. Segundo ele, a cultura atual esqueceu que o alimento é a base para a sobrevivência e se acostumou a substituir o investimento em alimentação segura por gastos em outras áreas. “A questão do preço do alimento é relativa. Se é caro ou barato, depende do valor que damos à alimentação”. De acordo com ele, nos últimos anos, as famílias norte-americanas passaram a gastar menos com alimentação, e mais com saúde e remédios. “São números que poucos param para relacionar”, destacou.


O desafio é aproximar agricultor do público, reforçando a importância da produção agrícola. Rogério Dias destacou a importância de se investir no agricultor. “Se eu quero alimento de qualidade, preciso então investir nessa produção. Senão vou ficar restrito a comer aquelas porcarias de alimentos nada nutritivos”, comentou. Para ele, a feira livre, com produtos orgânicos, oriundos da agricultura familiar, é o lugar onde o consumidor pode ter a oportunidade de dialogar e conhecer melhor o produtor rural.
É o que pensa também José Renato, produtor de Mendanha, em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro. Além de expor em feiras como o Sabores e Saberes, voltadas especificamente para alimentos orgânicos, seu José trabalha em feiras livres convencionais, onde grande parte dos feirantes apenas revende o material das grandes agroindústrias. “Existe sim a concorrência, porque as pessoas costumam comprar pela boniteza do produto. Como os químicos fazem com que os vegetais cresçam mais e mais rápido, as pessoas ainda estão acostumadas ao convencional”, conta o agricultor. Ele aposta nas terras férteis onde produz banana, cereja e outras frutas e hortaliças.

Restaurante Universitário: espaço aberto para debate
De acordo com Nádia de Carvalho, diretora do Restaurante Universitário, proporcionar algo além do almoço diário aos alunos e a toda a comunidade sempre foi o norte do projeto. “O Instituto de Nutrição Josué de Castro entrou no projeto com a assessoria técnica e acadêmica, mas o lado social e cultural sempre foi muito forte. A parceria com a Agência de Inovação fortaleceu ainda mais esses aspectos”, comentou Nádia. Segundo ela, há a proposta de que as feiras sejam realizadas periodicamente no espaço. Além disso, a UFRJ já negocia com os agricultores a possibilidade de fechar uma parceria para que as refeições servidas no Restaurante contenham produtos oriundos da agricultura familiar agroecológica. Para que isso ocorra, no entanto, ainda é preciso que as associações se organizem e se articulem para atender a demanda do Restaurante, na ordem das toneladas.
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