Sem dúvida, a possibilidade de “ler” o pensamento de consumidor agrada, e muito, qualquer publicitário ou marqueteiro. Para a neurociência, isso já é possível há algum tempo, graças aos estudos em neuromarketing, um conjunto de técnicas que analisa e interpreta reações neurológicas a determinados comportamentos de consumo. A novidade é que o Brasil acaba de ganhar a primeira empresa nacional especializada nessa área. É a Forebrain, criada por pesquisadores da UFRJ e residente na Incubadora de Empresas da Coppe desde o início de 2010.
A ideia do neurocientista Billy Nascimento, um dos sócios da empresa, começou a tomar forma quando ele percebeu que empresas que prestavam serviço de neuromaketing na Europa e nos EUA mostravam crescimento significativo em pouco tempo. Era um sinal de que se tratava de um negócio promissor. “Por exemplo, a Neurofocus, da Califórnia, cresceu muito rápido, se expandindo pelo mundo todo em pouco tempo. Seguir uma área inovadora, que não existe no Brasil, me pareceu muito interessante”, conta Billy, em entrevista ao Por Dentro.
A equipe se formou quando Ana Souza, também neurocientista, consolidou a sociedade com Billy. Os dois trabalhavam em um laboratório no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCFF/UFRJ), onde cursaram juntos Biomedicina. A ideia de Billy fez sentido para Ana, quando ele a convidou para iniciar um negócio. Apesar das boas intenções, entretanto, no início eles não tinham a menor ideia de como gerenciar um negócio.
Foi aí que entrou em cena a Incubadora. Billy já tinha ouvido falar na iniciativa da Coppe anteriormente, e buscou saber mais detalhes quando a empresa começou a tomar forma. Incubada, a empresa tem consultorias na área jurídica, comercial, administrativa, bem como ajuda na área de marketing e planejamento. Ou seja, tudo que um novo empreendedor precisa. “Conversar e trocar ideias com pessoas que tem mais experiência do que a gente faz toda a diferença”, afirma Ana.
Aprovados no processo de seleção da Incubadora, agora eles querem se organizar para identificar as melhores oportunidades e abrir o caminho para o setor no país. “Percebo várias oportunidades. Qualquer empresa com foco no consumidor é cliente em potencial”, avalia o empresário.
Apesar de ser uma área relativamente nova, Billy e Ana esperam uma resposta positiva dos empresários brasileiros. A técnica, que já foi utilizada por grandes empresas como Coca-Cola, K-Mart e McDonald’s, ainda não é popular por aqui, mas isso deve mudar. “Acho que existe uma demanda reprimida. Quando começarmos a mostrar a seriedade da empresa e que o neuromarketing não se trata de uma ilusão, esse deve ser um dos métodos de pesquisa mais adotados”, comenta Billy.
Já Ana lembra que pode haver resistência no início, mas aposta no embasamento científico. Afinal, a técnica é reconhecida por neurocientistas do Brasil e do mundo. Aliás, a solidez teórica da empresa é um dos diferenciais que a Forebrain deve destacar quando se lançar no mercado. “O fato de trabalharmos com isso há muitos anos faz diferença. Muitas empresas fornecem esse serviço sem profissionais com formação específica, o que acaba gerando certa limitação”, destaca a biomédica.
De fato, os dois já trabalham na área há muito tempo. Ana, por exemplo, desenvolve pesquisas na área de neuro-imuno-endocrinologia desde a graduação. Seus estudos de mestrado e doutorado são utilizados pelo Ministério da Defesa para a compreensão de fenômenos psicofisiológicos que alteram a qualidade de vida de militares que participam de missões de paz no Haiti.
Billy também já aplicou seus conhecimentos em uma parceria com o governo, quando participou do grupo de estudos que elaborou as figuras das embalagens de cigarro para controle do tabaco, parte das ações da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco (CQCT).
Billy e Ana admitem que são exceção ao se aventurarem no mundo dos negócios. Para eles, falta incentivo para que mais pesquisadores se tornem empreendedores. “Muitas dessas pesquisas que nossos colegas fazem poderiam ser aplicadas em empresas como a nossa, e não estão sendo aplicadas porque não há incentivo. E não estou falando de dinheiro: falta incentivo de educação mesmo”, destaca Billy.
A Forebrain está em fase de implantação, mas já conta com muitas ideias. Apesar de utilizarem as técnicas estabelecidas por padrão para qualquer pesquisa neurocientífica, os sócios já criaram sistemas de interpretação exclusivos, ou seja, formas de identificar, nos resultados, indicadores relacionados ao bem-estar, reações emocionais a campanhas publicitárias, comportamento de consumo diante de embalagens, e outros índices que devem ser criados mais tarde.
A Incubadora já apostou na proposta. O empreendimento ficará incubado por dois anos, com possibilidade de renovação. Agora, Billy e Ana querem estimular o perfil empreendedor e pensar grande. Afinal, como empresa pioneira, cabe à Forebrain abrir caminho para as próximos empreendimentos na área de neuromarketing, que, se seguir a tendência mundial, tem tudo para crescer no Brasil.
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