Empresa incubada na UFRJ apresenta simulador de avião pioneiro


Sob o céu do Rio de Janeiro, ali perto do aeroporto Santos Dumont, um bimotor se prepara para pousar. A visibilidade está boa, sem chuvas, e tudo parece estar normal. Até que... Pane no motor! O avião está perdendo altitude, vidas podem estar em perigo! E agora? O que fazer?

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Essa é uma das situações pela qual um piloto de avião de pequeno porte poderá passar – mas sem correr risco, nem pôr em jogo a vida de nenhum passageiro – no novo simulador preparado pela Virtualy, empresa residente na Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ. O simulador foi apresentado ao público na última quarta-feira, 14 de abril, no galpão de trabalho da empresa, na Cidade Universitária da UFRJ.

O equipamento, ainda em fase de finalização, é capaz de simular a operação do avião Let 410 (foto),  um bimotor de pequeno porte, com capacidade máxima de 19 passageiros, fabricado pela Let Aircraft, da República Tcheca. Trata-se de um simulador pioneiro, ainda não existente no país.

O empreendimento é uma parceria entre a Virtualy e a TEAM Transportes Aéreos, empresa carioca representante oficial da fabricante Tcheca. O evento contou com a presença de representantes da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e dos diretores da empresa européia, que se mostraram otimistas diante das primeiras demonstrações.

Dentro de uma classificação que vai de A até D, o simulador da Virtualy é categoria B (D é o grau mais alto). O presidente da companhia, Gerson Cunha, explica que o caminho a ser percorrido é “de alguns milhões de dólares”. A definição da categoria dos simuladores é realizada levando-se em consideração o grau de semelhança com o original. A brincadeira do empresário se justifica porque quanto mais fiel é o modelo, mais os custos de manutenção se aproximam dos custos demandados por aviões de verdade, que são altíssimos.

Gerson Cunha é um dos exemplos da aplicação prática de um dos benefícios gerados a partir da Lei de Inovação de 2004. Como pesquisador da Coppe, a legislação lhe permite se afastar de suas atividades públicas para assumir a gerência de uma empresa vinculada às suas atividades de pesquisa. Essa é uma garantia que incentiva a criação de empreendimentos como a Virtualy, as chamadas spin off.

A Virtualy “nasceu” a partir dos estudos em Realidade Virtual desenvolvidos no Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia (Lamce/Coppe) . De acordo com ele, mesmo quando a empresa se desvincular da Incubadora, a idéia é que o desenvolvimento das novas tecnologias continue sendo feito em parceria com os laboratórios da UFRJ. Em contrapartida, parte da renda obtida com os serviços prestados pela Virtualy retorna em melhorias para os laboratórios parceiros.

O simulador

O equipamento demonstrado durante o encontro foi o chamado Flight Training Device (FTD). Ele simula a cabine da aeronave, com todos os comandos e a visão do piloto projetada na tela. Se credenciado pela Anac, o simulador vai dinamizar o treinamento de pilotos de Let e de aeronaves de categoria semelhante. Depois de passar por um treinamento oficial no FTD, bastaria um voo simples para atestar a perícia de um comandante de Let.

Já do outro lado do galpão, a Virtualy trabalha em um projeto mais ambicioso: o Full Flight Simulator (FFS), que, além das funções do FTD, simula também os movimentos da própria cabine, graças ao mecanismo chamado Motion Base. Ainda em construção, quando funcionar, um simulador desse tipo devidamente credenciado pela Anac poderá até dispensar qualquer voo de teste ao aspirante a piloto de Let, caso atenda aos requisitos de grau máximo de qualidade.

O voo de demonstração ficou sob responsabilidade do comandante Mario Moreira, presidente da TEAM. Ele decolou e voou alguns minutos em áreas próximas ao aeroporto Santos Dumont, do Rio de Janeiro. Além de condições climáticas, o simulador cria obstáculos físicos que podem surgir, como pássaros, e programa possíveis panes para que o piloto aprenda a resolver problemas impossíveis de serem experimentados em um voo real, como uma pane no motor.

A expectativa agora é de que, no próximo mês, com o auxílio da Team, a Virtualy inicie a “regulagem” do simulador. O processo consiste em vôos de teste feitos por pilotos do Let, para que características como tempo de resposta dos controles e fidelidade ao avião real possam ser definidas.

O Brasil conta hoje com uma frota de 12 Let 410, dos quais três são da Team Transportes Aéreos. Em fevereiro esse número deve subir para 15 aeronaves, o que indica uma aposta do mercado na aviação regional, feita por aviões de pequeno porte, como o 410.

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