"Por que o fogo queima? Por que a lua é branca? Por que a Terra roda? Por que as unhas crescem?" Os versos são emprestados da canção “Oito anos”, de Adriana Calcanhoto, mas são também perguntas que estão na imaginação da maioria das crianças dessa idade. Matar tanta curiosidade foi uma das missões da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, evento realizado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, que ocorreu entre os dias 19 e 25 de outubro, em todo o país. Só no estado do Rio de Janeiro, foram quase 2000 atividades preparadas para receber, principalmente, crianças e adolescentes. Já na capital, as principais foram concentradas no Centro Cultural Ação da Cidadania e a Agência UFRJ de Inovação estava lá.
Diversidade foi a marca dessa edição da SNCT, que teve como tema a “Ciência no Brasil”. Bem ao lado do espaço ocupado pela exposição da Agência, técnicos do Instituto de Química da UFRJ criavam verdadeiras obras de arte, na demonstração sobre hialotecnia – técnica de moldagem de vidro com fogo. Mais adiante, o modelo do Demoiselle, de Santos-Dumont, mostrava um pouco do começo da aviação. No andar de cima, pinturas rupestres, astronomia, planetário e muito mais.
A proposta da Agência era mostrar um pouco da importância de inovar. Para isso, algumas das tecnologias que passaram por aqui ajudaram a mostrar, na prática, o que cada um da equipe tentava expor para os visitantes. O olhar de todos os envolvidos era de que cada criança e jovem que visitava o estande era um inventor em potencial, e devia acreditar nisso. Com a ajuda dos professores responsáveis, enviamos à feira exemplos de três projetos e tecnologias: Pro-Alga (projeto que tenta produzir álcool combustível a partir de macroalgas), Luminol UFRJ (tecnologia de identificação de sangue oculto) e Asfalto-Borracha (produção de asfalto a partir de borracha reciclada). Somente esse último não tem envolvimento direto com a Agência, mas não deixa de ser um exemplo de inovação, com impactos econômicos e ambientais.
As tecnologias
As amostras de algas nas garrafas representavam o Pro-Alga. O nome é referência ao Pró-Álcool, aquele de meados da década de 1970. Na época, o governo resolveu investir no etanol da cana-de-açúcar para substituir a gasolina, devido à crise do petróleo de 1973. Hoje, o projeto do professor Maulori Cabral tenta fazer o mesmo, mas, no lugar da cana, entre em cena as algas. O projeto ainda está em fase artesanal, mas as vantagens em relação à cana são evidentes; a expectativa é de uma produção seis vezes superior ao potencial da cana-de-açúcar.
Na mesma mesa, os corpos de teste do Asfalto-Borracha convidavam os visitantes a comparar texturas. “De que você acha que é feito esse bloco?” era a pergunta mais comum quando se aproximava um pequeno curioso. Terra, pedra e até massinha eram alguns dos palpites. Tudo menos pneu. O objetivo era mostrar como o que poderia ser lixo acabava se transformando em algo útil. Esse tipo de tecnologia já existe há décadas nos EUA, onde o produto foi inventado, mas se destacou na UFRJ quando um laboratório da Coppe supervisionou a aplicação do material em alguns trechos da Cidade Universitária, há poucos anos.
Por ser um produto controlado, o Luminol só pôde ser exposto por meio de vídeos, que demonstravam a aplicação da técnica na solução de crimes. O público jovem se identificava rapidamente, assim que a referência ao seriado CSI era mencionada. O que muitos não sabiam era que o Brasil é capaz de produzir uma substância semelhante a que os imbatíveis investigadores usam na série de TV, e ainda melhor: mais barata e que dispensa uso de luz especial para funcionar.
Aprender e inovar
Sem dúvida, explicar esses dados para crianças foi um desafio. Mas mesmo sem sair entendendo profundamente as técnicas de destilação, ou compreendendo o processo de reciclagem de pneus, com certeza os visitantes perceberam a importância de inovar. Para os adultos, que compareceram em maior número durante o fim-de-semana, foi uma oportunidade de conhecer melhor o trabalho desenvolvido na Universidade. Muitos ficaram animados com o Pro-Alga, ou se interessaram especialmente pelo material disponibilizado sobre patentes e marcas.
Um dos momentos mais marcantes da exposição aconteceu durante uma visita casual. Era quarta-feira e uma mulher se aproximou para conhecer o trabalho da Agência. Ela demonstrou interesse pelos projetos expostos, fez algumas perguntas, pegou alguns panfletos e foi embora. No dia seguinte, pela manhã, a mesma visitante retornou, dessa vez com sua irmã mais nova, e depois de ela mesma explicar as informações que ouviu no dia anterior, disse: “vim aqui para mostrar à minha irmã como é importante estudar, para poder um dia inventar coisas tão importantes como essas aqui”. Para Cristiano Costa, funcionário da Agência que esteve no estande nos dois dias, o episódio “valeu pela semana inteira”.
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