Falando de inovação social

Imagine uma fábrica, de onde saem os mais novos produtos eletrônicos, modernos e cheios de funções que facilitam o dia-a-dia. Ou então, uma linha de montagem, onde são construídos carros de última geração. Ou ainda os centros de pesquisa de gigantes da comunicação e da informática, onde o que há de mais novo em tecnologia da informação é desenvolvido. Para muita gente, o conceito de inovação se limita a processos desse tipo e é por isso que a pergunta “o que é inovação”, clichê para os pesquisadores do assunto, ainda precisa ser repetida à exaustão nos diversos setores da sociedade, para que conceitos como o da inovação social possam ser apreendidos por completo.


Já faz tempo que a Agência UFRJ de Inovação, que tem a difusão e aplicação desse conceito como uma das principais missões, conta com a assessoria de quem já estuda o assunto há vários anos. Roberto Bartholo, professor do Programa de Engenharia de Produção (PEP) da Coppe/UFRJ que atua na área de desenvolvimento social e sustentável, conversou com o Por dentro nessa semana e apresentou um panorama geral do que é inovação social, e de que maneira a Agência e a Universidade, de forma geral, pode atuar nesse campo que está sempre se renovando.

Para começo de conversa, a própria Universidade vive um período de transição e de transformações intensas, na opinião de Bartholo. É uma instituição que precisa se reinventar para lidar com as inovações exigidas por um mundo em transformação. É um estabelecimento que nasce de mãos dadas à cultura do livro-texto, da linguagem escrita, que passa a ser substituída pela cultura das mídias digitais, da internet, da informação e da comunicação. Pode até não parecer, mas tudo isso é intimamente ligado ao surgimento de inovações sociais, que são, acima de tudo, criações de novas relações sociais, que podem ou não ter o suporte de inovações tecnológicas. Esse é o desafio da Universidade e a Agência, articulada a setores internos e externos, pode contribuir e muito para esse processo de renovação. “A Universidade foi uma solução institucional para a organização da cultura escrita. Teve, e ainda tem uma importância imensa. Entretanto, estamos começando a viver essa nova maneira de organizar a cultura, com novas instituições vivendo ao lado da Universidade, que passam a desempenhar um importante papel, o que faz a gente parar pra pensar qual é o papel da Universidade”, explica Bartholo.

A resposta para esses questionamentos vai ser encontrada no trabalho em rede. O período vivenciado pela sociedade convida cada vez mais para o trabalho cooperativo e já está bem claro que não dá pra fazer uma transformação tão profunda com instituições isoladas em seus departamentos, em seus lugares fixos, estipulados por uma organização social que já começa a ficar antiga. Essa articulação pode e deve acontecer dentro e fora da Academia.

Na UFRJ, a primeira semente já foi plantada: é o Instituto Virtual de Inovação Social. O projeto, que começou no Programa de Engenharia de Produção, é hoje desenvolvido pelo setor de Inovação Social da Agência UFRJ de Inovação e tem o objetivo de servir de pólo para troca de experiências e saberes relacionados ao assunto. A ideia é que esse intercâmbio seja viabilizado por uma rede de relacionamentos entre os agentes praticantes da inovação e pesquisadores, estudantes, professores e instituições afins. Tudo isso livre de barreiras formais, institucionalizantes, de acordo com o pesquisador. “Por isso que gosto de usar o termo instituto virtual. Trata-se de um lugar na web, que articula possibilidades de comunicação e integração, sem precisar criar um domicílio físico”, comenta Bartholo.

O professor atua como consultor da Agência, ajudando na articulação de projetos que ainda estão no campo das intenções, com um significativo potencial de transformação social. O IVIS é um bom começo, que, mais do que estimular novas tecnologias sociais, materiais, pode ajudar a construir uma nova maneira de ver inovação e de enxergar as relações sociais, mais adequadas ao mundo pós-culturas digitais.

0 Comments:

Postar um comentário